quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Supermercados ecoeficientes procuram disseminar práticas de consumo consciente

Uma construção cujos impactos negativos sobre a natureza são minimizados, que use material proveniente de cadeias produtivas limpas e, sempre que possível, reciclado, além de possuir sistemas de uso racional de água e de otimização no Consumo de energia proveniente de fontes renováveis. Esses são os principais critérios que precisam ser atendidos para que um edifício seja considerado ambientalmente correto, causando o menor impacto possível durante sua construção e seu uso.

No entanto, para uma loja de varejo, cumprir essas exigências é apenas a primeira de uma série de ações que podem contribuir para a preservação ambiental e para o desenvolvimento Social . No Brasil, iniciativas que vão além da estrutura física dos prédios começam a ser incorporadas pelos grandes grupos de varejo, transformando as lojas verdes em lugares de disseminação de conceitos e práticas do Consumo consciente.

“Por serem locais em que as tomadas de decisões de Consumo se dão de forma mais direta e imediata, os pontos de varejo têm possibilidades enormes na formação da consciência do consumidor para os problemas ambientais derivados dos padrões de Consumo que temos hoje”, defende Aron Belinky, consultor do Akatu e especialista em responsabilidade Social , Sustentabilidade e Consumo sustentável.

Em junho de 2008, o Grupo Pão de Açúcar inaugurou, na cidade paulista de Indaiatuba, a primeira loja verde do Brasil. Além das características que permitem, por exemplo, menor gasto de água e energia, há iniciativas como uma seção de produtos orgânicos 50% maior do que existe habitualmente em lojas convencionais e um bicicletário para clientes e funcionários. O Walmart conta com duas lojas ecoeficientes — uma no Rio de Janeiro, outra em São Paulo — com mais de 60 itens que as diferenciam das lojas comuns, como maior economia de água e de energia e programas de gestão de resíduos sólidos. De acordo com rede, os novos hipermercados das bandeiras Walmart, Big, Bom Preço e Supercenter seguirão o modelo ecoeficiente.

Para as redes varejistas, o conceito de loja verde traz implícita a necessidade de ações de incentivo às práticas de Consumo consciente e de Sustentabilidade . “O que buscamos é um padrão que atenda a complexidade do conceito de Sustentabilidade e não simplesmente a certificação do edifício como loja verde”, afirma Hugo Bethlem, vice-presidente do Grupo Pão de Açúcar.

Essa intenção se reflete no comportamento de consumidores, caso da dentista Maria Estela, cliente da loja ecoeficiente do Walmart no bairro paulistano do Morumbi. Depois que descobriu a Estação de Reciclagem da loja, ela dirige pouco mais de 2 km, duas a três vezes por semana, para depositar lá o material reciclável que separa em casa. “Como moro em apartamento não muito espaçoso, era difícil separar lixo para Reciclagem . Agora, essa loja é praticamente uma extensão da minha casa”, conta. O analista de sistemas Douglas Xavier, que mora mais próximo, aproveita duplamente a viagem: “venho a pé depositar o lixo e volto para casa correndo para manter a forma.”

Recicláveis nem saem da loja
Os pontos de recolha de material reciclável são a iniciativa mais comum de incentivo e auxílio aos consumidores para a prática do descarte correto dos resíduos. Nesses pontos, é possível descartar materiais feitos de plástico, papel, vidro e alumínio. Em geral, as embalagens constituem a maioria dos resíduos gerados no cotidiano doméstico. Por isso, começam a aparecer soluções que livram o consumidor brasileiro de verdadeiras gincanas para o acondicionamento de lixo dentro de casa.

A mais nova iniciativa propõe a Reciclagem pré-Consumo dentro das lojas. Na prática, o consumidor tem a possibilidade de descartar ainda no supermercado as embalagens desnecessárias, diminuindo significativamente o volume dos resíduos gerados dentro de casa.

No Grupo Pão de Açúcar, o programa foi lançado em março de 2008 e hoje está presente em 21 lojas. “Essa inovação auxilia a rentabilidade da indústria de Reciclagem , porque ela recebe o material em condições ótimas de higiene e conservação, o que às vezes não acontece quando o material vem de casa”, afirma Hugo Bethlem. “São mais de 30 mil toneladas de resíduos que, desse modo, recebem a destinação correta, beneficiando as cooperativas de catadores”, contabiliza. “O mais importante, porém, é a conscientização das pessoas para o devido descarte de materiais recicláveis, poupando os aterros sanitários desse material.”

Na rede Carrefour, o programa de Reciclagem pré-Consumo da rede, aplicado somente na unidade de Piracicaba, interior de São Paulo, ajudou a elevar significativamente o volume do material recolhido, que hoje é de 3200 kg mensais. “Sempre buscamos fazer das nossas lojas agentes de promoção do Consumo consciente”, explica Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade do Carrefour.

Menos sacos plásticos, mais sacolas retornáveis
A necessidade de reduzir o Consumo de sacos plásticos no Brasil, que atualmente chega a 12 bilhões de unidades por ano, tem levado as redes de varejo a estimular os clientes a substituí-los por outras alternativas. O Carrefour e o Walmart, por exemplo, são parceiros do Ministério do Meio Ambiente na campanha Saco é um Saco.

O uso de sacolas retornáveis é uma das principais alternativas para o consumidor abandonar os sacos plásticos. Desde o lançamento, em maio de 2008, o Walmart comemora a marca de mais de 2 milhões de sacolas retornáveis vendidas, número que dá Boas perspectivas para meta estabelecida pela rede de reduzir uso de sacolas plásticas em 50% até 2013.

Para que esse objetivo seja atingido, o Walmart lançou no final de 2008 um programa que dá ao cliente o crédito por sacola plástica não utilizada. O valor que o supermercado pagaria pela sacola (R$0,03) volta em crédito para o consumidor que deixar de usá-la. “Essa iniciativa nos possibilitou tirar do meio Ambiente 12 milhões de sacolas e concedeu mais de R$ 360 mil em descontos para clientes” comemora Christiane Canavero, diretora de Sustentabilidade do Walmart.

Educação para o Consumo consciente
Os grupos de varejo têm apostado também na formação de funcionários para desempenharem o papel de multiplicadores dos conceitos do Consumo consciente para os clientes. Paulo Pianez, do Carrefour, evidencia o papel protagonista dos centros de varejo e a importância de fazer investimentos em programas de educação dos funcionários como meio de levar informações para o consumidor. “Temos e assumimos essa responsabilidade. São mais de 1,5 milhão de pessoas que visitam nossas lojas por dia. Se formos eficientes com nossas práticas de abordagem ao consumidores, podemos considerar que, a cada quatro meses, chegamos a uma população equivalente à do Brasil”, analisa.

Entre junho a setembro de 2009, o Instituto Akatu realizou oficinas de capacitação de multiplicadores sobre o conceito e as práticas do Consumo consciente para colaboradores da loja do Carrefour em Piracicaba. Desde 2007, o Akatu desenvolve com o Walmart o projeto “Educação para o Consumo Consciente”, voltado para os funcionários das lojas em todo o Brasil. Em 2008, foi realizado também o projeto “Cliente Consciente Walmart”, que disseminou conceitos e práticas de Consumo consciente entre clientes da rede.

Para o consultor Aron Belinky, na caminhada para estabelecer padrões sustentáveis de oferta de produtos e serviços, é fundamental que o varejo assuma a responsabilidade de dar informações ao consumidor sobre o que ele está comprando. “Isso se faz oferecendo ao consumidor informações sobre a procedência dos produtos e dando a ele opções de diferentes de marca e em formato diversificado para cada produto vendido”, afirma. “As empresas dificilmente vão abandonar as práticas de estímulo ao Consumo . Entretanto, já é um passo à frente se elas fizerem isso criando um Ambiente que proporcione ao consumidor a possibilidade de escolha de acordo com a sua consciência de Consumo , e não por impulso”.

Belinky conclui declarando que o ideal é que, para cada produto vendido na loja, esteja disponível ao consumidor o maior número de marcas e em vários formatos — como a possibilidade de comprar um produto a granel, por exemplo. “Assim, ele pode escolher os produtos baseado na qualidade, premiando marcas socialmente e ambientalmente responsáveis, ou então considerando a possibilidade de gerar menos resíduos”.

Fonte: Instituto Akatu