É inútil negar e nem é caso para ficar envergonhado, mas a verdade é que ninguém fica indiferente a um elogio. Não me refiro, claro está, ao elogio fácil, nem à bajulação rasteirinha, nem ao elogio hipócrita, nem tão pouco ao elogio desajeitado que nos faz corar.
Falo daqueles momentos raros em que recebemos dos outros uma profunda sensação de
apreço, de admiração pelos nossos actos, pelo nosso esforço ou pelas
nossas pequenas conquistas.
Os elogios (ou a ausência deles) são sinais poderosos que condicionam o nosso comportamento e que regulam a maneira como nos relacionamos com os outros. E é algo tão profundo e arreigado que, frequentemente, nem nos apercebemos como muito das nossas vidas é determinado pelo impulso do elogio.
É espantoso como a sociedade se organiza para o elogio e o institucionaliza sob as formas mais diversas: a progressão na carreira, as medalhas, as homenagens, os prémios, os jantares em honra de alguém.
São elogios pelo que somos; são elogios pelo que temos. Por eles aceitamos as tiranias da moda, compramos carros do último modelo, sonhamos ser artistas, procuramos ser melhores. Vivemos assim toda uma vida, num estrebuchar inconsciente (e às vezes nem tanto) pelo elogio, desde o berço até à morte, desde o aplauso dos primeiros passinhos ao elogio fúnebre.
E, muitas vezes, não nos apercebemos como os nossos filhos lutam pelos nossos elogios. Não vemos que os elogios são a mola poderosa que os motiva para a descoberta, são o ingrediente necessário que lhes espevita o desejo de aprender, são o afago que lhes ameniza o desconforto dos
seus pequenos insucessos.
Mas o elogio tem uma regra fundamental: os tais momentos raros de que falo, os verdadeiros elogios, vêm sempre de alguém que de um modo ou de outro nos é importante, de alguém a quem reconhecemos autoridade e saber. Por isso os nossos filhos lutam muito pelos nossos elogios.
Enquanto pequenos. Usemos, pois, esse grande instrumento pedagógico que é o elogio sincero. Não o banalizemos, mas não sejamos avaros. Para não ter de descobrir um dia, por força da nossa indiferença, que os nossos filhos já são indiferentes aos nossos elogios.
Fonte: Henrique Madeira